terça-feira, 3 de maio de 2016

Que sentimento para a indústria?

No editorial do METAL deste mês, Aníbal Campos, Presidente da AIMMAP, questiona as prioridades do actual governo relativamente à indústria. É que os sinais são alarmantes: quer no Plano Nacional de Reformas – onde não á uma única referência à indústria – quer na Lei do Orçamento, onde a indústria deixou de ser qualificada como um dos pilares da economia portuguesa, tudo indica que há uma certa “vergonha da indústria”.
Porque se insiste em políticas que já demonstraram serem erradas para o país?...
Veja as preocupações de Aníbal Campos aqui


"Vergonha da Indústria

Houve um tempo em que o poder político em Portugal deixou de apostar e investir na indústria, com o preconceito de que esse era um setor menor e a ilusão de que um país poderia sobreviver apenas com o turismo e os serviços.
Os péssimos efeitos dessa política obrigaram os governos de José Sócrates e Pedro Passos Coelho a mudar a estratégia, fazendo regressar a indústria ao centro das prioridades e passando a proclamar a reindustrialização e o fomento industrial como expressões decisivas de uma nova política económica.
Essa aposta na indústria foi corporizada através de investimentos criteriosos e eficazes na inovação e na promoção da internacionalização. Apenas no eixo da formação e qualificação as medidas implementadas não foram felizes, tanto no governo do PS como no subsequente governo da coligação PSD/CDS.
Mas apesar dos erros nessa vertente da formação, temos de reconhecer que a mudança foi genericamente positiva.
Os bons resultados dessa alteração não se fizeram esperar. Em poucos anos, as exportações cresceram de 28% para 41% do PIB. A balança comercial passou a ser superavitária pela primeira vez em muitas décadas. O investimento aumentou significativamente. E o emprego, embora não tenha aumentado por causa da crise que assolou o país, passou a ser mais qualificado.
Se a evolução estava a ser positiva, torna-se difícil compreender por que motivo se resolveu mudar novamente o rumo.
Mas infelizmente é isso que está suceder. Corro o risco de estar enganado e se assim for, não terei qualquer reserva em penitenciar-me. Mas a verdade é que, pelos sinais que evidencia, o atual governo tem alguma vergonha em promover ou até em assumir a importância da indústria nacional.
O primeiro sinal nesse sentido foi manifestado logo no momento em que pretendeu desvalorizar a importância das exportações para o crescimento económico, ao mesmo tempo em que defendia novos estímulos ao consumo interno.
Quem conhece minimamente a estrutura produtiva nacional, adivinhou imediatamente que tal aposta no aumento do consumo interno passaria necessariamente por um aumento significativo de importações não reprodutivas de produtos de base industrial e por um desinvestimento na indústria portuguesa.
Mais recentemente, vão-se somando sinais ainda mais esclarecedores a esse propósito.
E um bom exercício para tal efeito passará por comparar a Lei do Orçamento em vigor com os diplomas homólogos da legislatura anterior. Ora, nas anteriores leis do orçamento, foram enunciados os 6 pilares da economia portuguesa, sendo que um deles era precisamente a indústria, a reindustrialização ou o fomento industrial. Na Lei do Orçamento aprovada pela atual maioria a indústria deixou de ser qualificada como um dos pilares da economia portuguesa. Pura e simplesmente, essa palavra foi varrida do novo léxico orçamental.
Já no final do recente mês de março, o governo anunciou o chamado Plano Nacional de Reformas, alegadamente com as grandes linhas estratégicas para o futuro do país. Inacreditavelmente, a versão inicial desse documento não dedicou uma única linha à indústria. Uma vez mais, essa foi verdadeira palavra maldita para os autores do documento.
A omissão de referências à indústria nos dois documentos mais importantes e estruturantes que este governo produziu até ao momento, não é apenas simbólica. Pelo contrário, é a confissão expressa de um novo paradigma, no qual a indústria e as empresas industriais correrão o risco de serem os parentes pobres da economia.
Não consigo perceber que se queira insistir em políticas que já demonstraram ser profundamente erradas e prejudiciais ao país.
Não consigo perceber como é que se pretende projetar o futuro do país, ignorando totalmente a importância da indústria.
E não consigo perceber por que razão o poder político tem vergonha da indústria!
Aníbal Campos
Presidente da Direção da AIMMAP"

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Negociar com verdade

A AIMMAP, como associação responsável, sempre entendeu a negociação com os sindicatos e a contratação coletiva como matérias prioritárias para as empresas e os trabalhadores do setor metalúrgico e metalomecânico.
Os acordos obtidos entre a AIMMAP e os sindicatos da UGT – nomeadamente o SINDEL -, permitiram alcançar o que se pretende numa negociação séria: um contrato coletivo com soluções equilibradas para empregadores e trabalhadores.
Parece que o governo quer introduzir alterações em matéria de legislação laboral nomeadamente na organização do tempo de trabalho. E não parecem ser alterações em nome do crescimento e do emprego.
Veja as preocupações e os alertas que estas alterações acarretam e que preocupam o Presidente da AIMMAP no seu editorial do METAL que pode ver aqui:

"Em defesa de uma negociação coletiva verdadeiramente leal e transparente"

A AIMMAP desde há anos que encara a negociação com os sindicatos e a contratação coletiva em especial como matérias verdadeiramente prioritárias para as empresas e os trabalhadores do setor metalúrgico e metalomecânico.
Estamos absolutamente convictos de que uma boa contratação coletiva é absolutamente decisiva para mais paz social e uma melhor e mais justa gestão dos recursos humanos.
Por outro lado, temos igualmente a consciência plena de que a boa contratação coletiva é aquela em que ambas as partes conseguem obter benefícios para os seus representados.
Naturalmente, para que isso possa suceder é inevitável que haja cedências recíprocas. Em cada negociação, um ganho está sempre dependente da contrapartida que se está disposto a ceder.
Sem falsas modéstias, ao longo dos últimos anos a AIMMAP e os sindicatos da UGT – nomeadamente o SINDEL -, lograram construir e consolidar uma relação negocial sólida e leal da qual resultou um contrato coletivo com soluções equilibradas para empregadores e trabalhadores.
A AIMMAP orgulha-se desse resultado, o qual apenas foi possível porque, conforme atrás se sublinhou, ambos os outorgantes souberam reciprocamente fazer concessões.
Nos últimos tempos temos vindo a ser confrontados com notícias de que a maioria que suporta o governo atual está empenhada em introduzir diversas alterações em sede de legislação laboral.
Aparentemente, algumas dessas mudanças preconizadas pelo suporte parlamentar ao governo reportam-se a matérias relacionadas com a organização do tempo de trabalho.
E segundo se anuncia, existe o propósito de que essas alterações à legislação laboral venham inclusivamente a prevalecer sobre os contratos coletivos de trabalho.
Se assim acontecesse, algumas das matérias que a AIMMAP acordou com o SINDEL e outros sindicatos seriam revogadas contra a vontade das partes que as negociaram.
Acresce que, essa eventual revogação seria apenas parcial. Ou seja: seriam revogadas algumas cláusulas com matérias introduzidas na negociação pela parte empregadora mas já não o seriam as cedências efetuadas em contrapartida.
Tudo isto nos parece altamente inquietante, por duas razões essenciais.
Em primeiro lugar, porque quando o poder político decide unilateralmente impor a sua vontade a todos os parceiros sociais, desconsiderando os acordos previamente celebrados por associações e sindicatos para regulação das relações laborais num determinado setor de atividade, estará a atacar a liberdade contratual, a economia de mercado e a própria democracia.
Por outro lado, porque é absurdo e enviesado que se revogue apenas uma parte do acordo obtido, extinguindo-se os ganhos de uma das partes mas mantendo-se os ganhos da outra.
Seria pois muito preocupante que o atual governo e seus apoiantes no parlamento viessem a decidir enveredar por tal caminho.
Estamos aliás certos de que essa seria uma violenta machadada na contratação coletiva. No que à AIMMAP diz respeito, jamais poderia a mesma vir a estar disponível para manifestar abertura para quaisquer novas cedências ou concessões. Afinal de contas, teria todas as razões para temer fundadamente que, depois de obtidos os equilíbrios negociais, viesse ulteriormente um qualquer governo alterar as regras do jogo e destruir os referidos equilíbrios.
Sinceramente, se o governo concretizasse os rumores agora postos a circular não haveria durante muito tempo quaisquer condições para a celebração de novos contratos coletivos no setor metalúrgico e metalomecânico.
Com efeito, só será possível assegurar contratos coletivos justos e equilibrados através de uma negociação coletiva verdadeiramente leal e transparente.
Apesar de tudo, e sem prejuízo da justeza das nossas preocupações, mantemos ainda assim a expectativa de que os responsáveis deste governo com tutela nesta matéria não irão embarcar numa aventura desta natureza. Mas para tanto é fundamental que ouçam a voz da razão e do bom senso e não cedam às reivindicações das forças radicais que, simulando apoiar o executivo, parecem cada vez mais empenhadas em destruir a economia de mercado e interromper o crescimento de alguns setores de atividade que, nos últimos anos, foram verdadeiramente decisivos para o aumento das exportações portuguesas.
Pelo que o dilema é simples: vamos continuar a apoiar as empresas como garante do crescimento económico e da criação de mais e melhor emprego ou vamos, pelo contrário, ajudar a destruir o país em nome de dogmas ideológicos?
Aníbal Campos
Presidente da Direção da AIMMAP"

 

quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Crescer de forma sustentada

Não há receitas infalíveis mas o Presidente da AIMMAP sugere os caminhos a seguir pela indústria metalúrgica e metalomecânica, rumo ao crescimento continuado. No seu editorial do METAL deste mês, Aníbal Campos, justifica a excelente performance do setor no ano de 2015 e elenca as questões fundamentais para o aumento dos indicadores: a continuidade na formação de qualidade ministrada pelo CENFIM (de preferência sem os habituais obstáculos do Estado neste processo); o aparecimento de novos e mais eficientes programas de apoio à internacionalização das empresas; o suporte à inovação via PORTUGAL 2020; a manutenção das regras de organização do tempo de trabalho que têm estado em vigor ao longo dos últimos anos nas empresas filiadas na AIMMAP. Leia os votos para 2016 aqui

"Como continuar a crescer"
Tal como já vinha a suceder nos anos anteriores, em 2015 o setor metalúrgico e metalomecânico apresentou números extraordinários, os quais devem ser especialmente valorizados tendo em conta o contexto de crise em que apesar de tudo a nossa economia continua a viver.
As exportações foram as melhores de sempre, as empresas estão mais sólidas do ponto de vista financeiro, o investimento aumentou significativamente e o emprego cresceu em quantidade e qualidade.
Todo este percurso de sucesso é essencialmente da responsabilidade das empresas e das entidades que as apoiam como é o caso, evidentemente, da AIMMAP.
Não obstante, é fundamental que os políticos não perturbem aquilo que as nossas empresas estão a conseguir fazer.
Pelo que, neste momento de passagem para um novo ano não posso deixar de sublinhar o nosso entendimento sobre aquilo que será necessário para que o nosso setor continue a crescer num futuro próximo.
Os ingredientes da receita para o crescimento estão identificados. Nesta oportunidade permito-me sublinhar apenas alguns daqueles que nos parecem mais relevantes.
Queremos em primeiro lugar que nos deixem formar os jovens qualificados de que a nossa indústria necessita. Precisamos que deixem o CENFIM continuar a trabalhar e que cessem os constrangimentos e dificuldades que o poder político está sistematicamente a causar ao funcionamento dos centros de formação. Não faz sentido que a formação e a qualificação dos trabalhadores esteja integrada nas escolas do Ministério da Educação. É fundamental que as ações de formação sejam ministradas por quem domina os assuntos e por quem conhece o setor metalúrgico e metalomecânico: o CENFIM.
Em profunda articulação com a questão referida no parágrafo anterior, precisamos que nos deixem criar mais emprego qualificado. As nossas empresas, para serem ainda melhores, sabem que precisam de mais soldadores, serralheiros, torneiros ou operadores de CNC. Mas infelizmente não os encontram, particularmente porque o Estado português não permite que o CENFIM os forme em quantidade suficiente para as suas necessidades. É urgente que os poderes públicos percebam de uma vez por todas como funcionam as economias competitivas e como é criado o emprego que torna competitivas as empresas.
Num plano diferente, é fundamental que sejam dinamizados mais programas de fomento à internacionalização das empresas, essencialmente no âmbito do Portugal 2020. A internacionalização da economia portuguesa, com cada vez mais empresas nacionais no exterior, terá de ser a nossa mais importante aposta estratégica enquanto país. Naturalmente, os setores com maior envolvimento nessa aposta terão de ser aqueles que têm dado mais provas de competência na matéria, como é o caso, entre outros, do setor metalúrgico e metalomecânico.
Ainda no contexto do Portugal 2020, é vital que haja uma aposta consolidada na inovação nas suas mais variadas vertentes. Ora, a indústria metalúrgica e metalomecânica obteve os seus excelentes resultados porque tem apostado de forma reiterada e sistemática na inovação e na investigação e desenvolvimento. Com efeito, não há quaisquer dúvidas de que o nosso setor cresceu significativamente no exterior a partir do momento em que passou a competir essencialmente com base na qualidade e já não em políticas de preços baixos. Significa o exposto que o setor soube apostar na inovação e obteve resultados práticos com essa aposta. Ora, esses são pergaminhos que impõem que as políticas de inovação que venham a ser implementadas pelo estado português tenham em consideração o que já fez, está a fazer e poderá ainda fazer aquele que é o mais importante setor da indústria transformadora portuguesa.
Finalmente, é importante que sejam mantidas todas as regras de organização do tempo de trabalho que têm estado em vigor ao longo dos últimos anos nas empresas filiadas na AIMMAP. Nesse âmbito, o contrato coletivo de trabalho celebrado entre a AIMMAP e o SINDEL é um verdadeiro exemplo de uma negociação equilibrada com ganhos evidentes para ambas as partes, tendo contribuído claramente para a paz social no setor. Não aceitaremos pois que, por vontade de agradar ao sindicalismo do contra, venham a ser efetuadas alterações ao Código do Trabalho que sejam suscetíveis de por em causa um instrumento de regulamentação tão importante como o é o CCT entre a AIMMAP e o SINDEL. De igual modo, todos estamos conscientes da enorme importância da figura do banco de horas, a qual contribuiu para extraordinários ganhos de produtividade por parte das empresas tendo ao mesmo tempo sido útil para a organização da vida pessoal dos trabalhadores. Seria verdadeiramente absurdo que o regime do banco de horas viesse a ser eliminado ou dificultado, ainda por cima como forma de satisfazer os caprichos dos partidos e organizações mais radicais. No mesmo plano, será também preocupante que o partido do governo concretize a reposição dos 4 feriados. A economia portuguesa continua ainda com evidentes dificuldades. Pelo que não estamos ainda em condições de prescindir pura e simplesmente de 32 horas de trabalho anual por cada trabalhador. Uma empresa média com 100 trabalhadores irá perder, de repente, 3.200 horas de trabalho num só ano. Em muitos casos, essa redução poderá ser decisiva em termos de perda de competitividade. É vital que se pense bem nas consequências negativas de medidas como essa antes de se colocar as mesmas na mesa de discussão. Esperemos que o bom senso possa prevalecer.
Aníbal Campos
Presidente da Direção da AIMMAP"

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

É na concertação social!

O governo tem na sua agenda o aumento do salário mínimo nacional. A AIMMAP reconhece que o SMN é baixo. E por isso mesmo tem desenvolvido esforços negociais para, por força da contratação colectiva, ter um montante superior para as empresas associadas. Isto já aconteceu e está em análise a sua revisão em 2016. Há margem de progressão. Mas deve existir realismo, coisa que parece não abundar nas propostas da esquerda que podem no curto prazo levar à destruição de empresas e dos seus postos de trabalho. Este assunto é para ser discutido em sede de concertação social e não pode ser entregue a uma decisão da AR. O primado da concertação social deve ser respeitado. É essa a opinião do Presidente da AIMMAP no seu editorial do METAL deste mês que pode ler aqui:

"O primado da Concertação Social

O Partido Socialista e as forças políticas parlamentares à sua esquerda têm anunciado de forma reiterada a intenção de aumentarem o salário mínimo nacional para € 600,00.
Pelo que, independentemente da composição do governo que vier entretanto a ser empossado, não subsistem quaisquer dúvidas de que está constituída na Assembleia da República uma maioria de deputados favorável àquele aumento.
Naturalmente, a AIMMAP não pode deixar de se pronunciar sobre o assunto.
Em primeiro lugar, importa reconhecer que o valor do salário mínimo nacional é efetivamente baixo.
Esse não é um entendimento de circunstância, sendo sim uma constatação absolutamente coerente com as negociações que a AIMMAP tem desenvolvido com os sindicatos ao longo dos anos mais recentes.
Aliás, a AIMMAP está nesta matéria totalmente à vontade pois a verdade é que desde janeiro de 2013 que o salário mínimo aplicável às empresas suas associadas é superior, por força da contratação coletiva, ao valor do salário mínimo nacional.
E acresce ainda que a AIMMAP está disponível para fazer um ajustamento a esse valor com efeitos a partir de janeiro de 2016, caso haja acordo com os sindicatos nesse sentido em sede de contratação coletiva.
Seria pois hipócrita rejeitar-se liminarmente a eventualidade de um aumento do salário mínimo nacional. Pelo contrário, admitimos que existe margem para alguma progressão.
Não obstante o exposto, é importante que se denuncie o caráter totalmente irrealista das propostas da esquerda parlamentar e muito particularmente dos partidos da extrema esquerda.
Aumentar o salário mínimo nacional para €600,00 num curto espaço de tempo, irá forçar o encerramento de empresas e a destruição de muitos postos de trabalho.
Há alguns setores de atividade que serão pura e simplesmente pulverizados. E mesmo no âmbito da indústria do metal haverá subsetores que verão a sua sobrevivência em risco.
Para além disso, não há quaisquer dúvidas de que todas as empresas exportadoras dos mais diversos setores perderão competitividade externa, o que implicará que a nossa balança comercial volte a ser deficitária.
Aliás, é bom que se tenha presente que um aumento muito significativo das retribuições mínimas terá um efeito propulsor em todos os níveis salariais mais elevados, o que agravará de forma substancial os custos das empresas. O que inevitavelmente irá comprometer as nossas exportações.
Para além do exposto, há questões de natureza formal e procedimental que não podem deixar de ser observadas neste âmbito.
Ora, há quem defenda que o aumento do salário mínimo seja diretamente decidido pela AR sem qualquer intervenção dos parceiros sociais.
Essa seria uma decisão verdadeiramente inaceitável que a AIMMAP rejeita em absoluto.
Em nosso entendimento essa eventualidade desrespeitaria duplamente os parceiros sociais e a própria concertação social.
Por um lado porque se encontra ainda em vigor um acordo em sede de concertação social, nos termos do qual qualquer evolução do salário mínimo deverá ter em conta o crescimento da produtividade. E foi nesse contexto expressamente definido que tal binómio seria aferido pelos parceiros sociais antes de se proceder a qualquer atualização.
Por outro lado porque, independentemente desse compromisso em vigor, as questões sociais com repercussões económicas nas empresas não podem deixar de ser submetidas previamente à apreciação dos parceiros sociais no sentido de se potenciar um consenso sobre as mesmas no âmbito da concertação social.
É pois verdadeiramente fundamental que o primado da concertação social continue a ser respeitado. Ignorar essa evidência será uma verdadeira ofensa a um dos mais importantes pilares do nosso sistema democrático.
Aníbal Campos
Presidente da Direção da AIMMAP"

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Responsabilidade e bom senso

A instabilidade e a incerteza são fatores que desagradam a qualquer empresário. É fundamental alguma previsibilidade para se poderem tomar decisões e implementar estratégias de crescimento e de investimento.
Prolongar por muito mais tempo a incerteza política é nocivo para a economia e para o País. Mas igualmente importante para a estabilidade é a existência de responsabilidade na escolha dos executores das políticas.
Mude-se o que tem de se mudar quando os resultados não aparecem. Mas não se alterem equipas que têm produzido resultados com a aplicação de políticas de crescimento. O Presidente da AIMMAP, no seu editorial do METAL refere que devem manter-se nos cargos quem bem serviu o país e facilitou a internacionalização das empresas e a inovação.
E os exemplos da AICEP ou da ANI são aqui lapidares.
Veja o editorial do METAL de Outubro completo aqui.


Haja o que houver, haja responsabilidade

O período que estamos a viver em Portugal em virtude dos resultados eleitorais é de incerteza. As empresas e os empresários vivem dias de expectativa e apreensão, não porque têm receio de qualquer governo, independentemente da sua composição, mas sobretudo porque a instabilidade é má conselheira e tem impacto direto na vida económica do país.
Prolongar por muito mais tempo a incerteza de quem nos governa é nocivo para quem quer investir e para quem quer tomar decisões que têm implicações nas estratégias de crescimento, seja no mercado interno seja no comércio internacional.
Para um setor que tem uma cada vez maior – e ainda bem – exposição ao comércio internacional, isto é fulcral.
Aos empresários o que interessa é que haja definição clara de prioridades e que a República Portuguesa seja vista como parceira honrada, cumpridora das suas obrigações e país facilitador da economia de mercado, baseada na competência, inovação e qualidade dos seus produtos e serviços, afinal, os pilares da competitividade e crescimento.
Os empresários de hoje são cumpridores das suas obrigações, catalisadores do investimento, responsáveis pelo bem-estar dos seus colaboradores e os principais mobilizadores das recentes –ainda que ténues – mudanças positivas que já se sentem no ambiente económico e social do país.
Não vou por isso dissertar sobre a composição do governo português que agora toma posse nem conjeturar sobre outros cenários políticos que entretanto se possam desenhar. Isso ficará para os políticos e para a Assembleia da República.
Mas como empresário não posso deixar de apelar à responsabilidade de todos em questões que são transversais ao interesse nacional.
Falo do cumprimento dos tratados europeus, dos compromissos assumidos, da manutenção de Portugal no Euro e da necessidade de dar continuidade a um modelo europeu, assente no respeito pelos cidadãos, num espaço unido, solidário, democrático, de paz e prosperidade para todos, enfim, próximo dos cidadãos. Julgo que estes valores ninguém pode por em causa, independentemente das suas convicções ou crenças.
É por isso que entendo que há questões que não se colocam neste período e há bons exemplos por essa Europa fora nesta matéria específica: independentemente das mudanças nas equipas governativas é fundamental que haja responsabilidade na escolha dos executores de algumas políticas, seja pela manutenção das pessoas que o têm feito “bem”, seja pela correção dos cargos por quem não deu provas de responsabilidade e boa governança. E isto sem qualquer espécie de preconceito ideológico.
A Itália e a Bélgica são exemplos de países em que as mudanças variadas das equipas de governo não são, felizmente, acompanhadas por alterações em massa de diretores gerais ou responsáveis regionais.
Lá como cá, as mudanças operam-se em função do desempenho dos cargos e não em função de uma qualquer filiação partidária ou identificação. Evidentemente que tem de haver um conjunto de lugares de lealdade política mas as boas práticas existentes na Europa deveriam de uma vez por todas, numa democracia madura, fazer escola também em Portugal, para bem da responsabilidade e da competitividade e respeitabilidade do país.
Não me entendam mal: mude-se o que tem de se mudar, quando os resultados não aparecem. Mas não se alterem equipas que têm produzido resultados e contribuem para a superação dos desafios nacionais com a aplicação de políticas de crescimento e que no caso concreto da nossa indústria, estão completamente alinhadas com a nossa estratégia.
São disso exemplos os casos da AICEP ou da ANI. Poderia dar outros. Mas a dimensão do comércio internacional, fundamental para o nosso crescimento com a marca METAL PORTUGAL e as atividades de inovação com a correta ligação das empresas às entidades de saber, são duas matérias que considero essências para a manutenção e reforço dos níveis de competitividade a que o setor tem habituado o país e com os quais se irá continuar a afirmar.
Haja por isso, apesar de incerteza, responsabilidade por parte de todos. Os empresários cá estarão para continuar a desenvolver o seu trabalho qualquer que seja o cenário político.
Aníbal Campos
Presidente da Direção"

terça-feira, 29 de setembro de 2015

METAL PORTUGAL - uma marca global

Os valores do crescimento dos negócios internacionais do setor metalúrgico e metalomecânico correspondem a um esforço notável das empresas e dos empresários na procura da excelência e da qualidade em todos os mercados. Estes valores do setor são essenciais para o mundo global pelo que o aparecimento da marca METAL PORTUGAL é a consequência e causa de orgulho para um setor que quer continuar a crescer sustentada e continuadamente.

A diversidade do setor consegue unir-se nesta marca e permite olhar para o futuro com boas perspetivas. Isto mesmo pode ler-se nas reflexões de Aníbal Campos sobre o tema no seu editorial do METAL deste mês que pode ler aqui


"METAL PORTUGAL

O setor metalúrgico e metalomecânico tem respondido de forma assertiva aos desafios e às exigências da sobrevivência e do crescimento, apostando continuadamente na qualidade e inovação dos seus produtos e serviços, investindo no reforço da sua capacidade produtiva – aliás, em completo contraciclo económico! – e assumindo-se como o setor industrial mais exportador do país.
Este orgulho genuíno e legítimo que sentimos pelo contributo que demos para o desígnio nacional do aumento das exportações – o sector cresceu 30% entre 2010 e 2014, atingindo o valor de 13,8 mil milhões de euros nesse ano – aumenta a nossa responsabilidade e dá-nos alento para continuarmos este caminho de forma sustentada.
Um caminho que definimos em equipa e em conjunto com os nossos empresários e associados, alicerçado em 3 linhas fundamentais e que foram essenciais para os resultados alcançados:
- a inovação dos produtos e serviços, como base de todo o nosso trabalho e projeção;
- a internacionalização das nossas operações, como um imperativo de crescimento e sustentabilidade;
- e a formação dos empresários e colaboradores, como pilar do conhecimento e enriquecimento das competências fundamentais a todo o processo de conquista de mais e melhores mercados.
Hoje somos assim um setor mais preparado, com empresas ainda mais dinâmicas e com uma perspetiva sólida de crescimento.
Permitam-me destacar que este caminho foi feito num setor de enorme dimensão e que é de uma diversidade tão vasta e heterogénea que a muitos surpreende e que à primeira vista poderia fragilizar.
Um setor que trabalha simultaneamente as cutelarias e a louça metálica, as máquinas e equipamentos, as estruturas metálicas, o equipamento de transporte no automóvel, no ferroviário ou na aeronáutica e as peças técnicas de elevada precisão e engenharia, é um setor com uma força gigantesca mas também com algumas especificidades.
Soubemos interpretar a força do setor, o peso das empresas na economia e na sociedade e demos-lhe a união necessária para que a visão de conjunto, apesar da diversidade, nunca saísse abalada.
O metal que nos une foi pois a “liga” essencial para termos dimensão, arranjarmos soluções comuns e de forte impacto – veja-se por exemplo a compra de energia em grupo, os projetos conjuntos de internacionalização ou o “Clube da Subcontratação industrial” – numa lógica associativa eficaz, que infelizmente, vai sendo rara no nosso Portugal.
Das agulhas às gruas, das panelas às facas, das peças técnicas às máquinas, pretendemos continuar a ser a indústria das indústrias, em Portugal, na Europa, no mundo.
A marca METAL PORTUGAL, que recentemente apresentámos, representa assim um setor forte e robusto e contribui para projetá-lo a um patamar superior de perceção de qualidade, de inovação constante e de visão de futuro.
Esta é uma marca global que reflete o significado do metal português e o seu posicionamento, uma marca que ajuda a comunicar e a promover, uma marca que é a síntese do setor e que está omnipresente nas nossas vidas, em Portugal e no mundo.
Lançada e apresentada publicamente esta nossa marca, queremos agora dar um novo passo no sentido de a mesma adquirir uma projeção universal.
Para esse efeito, é fundamental que as nossas empresas sintam a marca como sua e a utilizem no seu dia-a-dia.
Estamos agora a contactar as nossas empresas associadas nesse sentido.
Esperamos que a marca passe a ser uma ferramenta permanentemente utilizada pelas nossas empresas na sua comunicação com o exterior.
Estamos convictos de que todas as empresas que o fizerem estarão a contribuir de forma decisiva para o reforço e a coesão do sector metalúrgico e metalomecânico em Portugal.
Os serviços da AIMMAP estarão totalmente disponíveis para ajudar as nossas empresas nesse processo.
Aníbal Campos
Presidente da Direção da AIMMAP"

sexta-feira, 31 de julho de 2015

Exportações sobre rodas. E sobre carris?

As exportações portuguesas têm como principal destino a Europa e o sector mais exportador, metalurgia e metalomecânica reflecte esta tendência. Cerca de 70% das exportações têm como destino a Europa, sendo a via rodoviária, uma das suas principais formas de transporte, relegando a via ferroviária para patamares secundários, apesar da sua relevância.

Vendo o investimento que os nossos vizinhos mais próximos, Espanha e França, estão a fazer nas infra-estruturas ferroviárias, Aníbal Campos manifesta a sua enorme preocupação pelo não ajustamento nacional à bitola europeia com consequências graves com as quais ninguém aparenta estar preocupado. Veja a reflexão do Presidente da AIMMAP relativamente a este tema crítico para o país, aqui.

"A premência do transporte ferroviário

Tal como é sabido, a grande maioria das exportações nacionais tem como principais destinos os mercados europeus.
Naturalmente, o transporte dos bens e produtos exportados para tais destinos é efetuado predominantemente por via rodoviária.
E mesmo nos casos de exportações para outros destinos mais longínquos, o transporte rodoviário acaba sempre por ter um papel decisivo. Com efeito, considerando algumas limitações dos portos nacionais, muitas das nossas exportações por via marítima são enviadas a partir de Roterdão, Hamburgo ou Antuérpia – o que implica um segmento prévio de transporte terrestre desde Portugal até àqueles portos europeus.
Acresce ao exposto que, até ao momento, para as exportações das empresas portuguesas o transporte ferroviário não consegue ser alternativa efetiva ao rodoviário.
Ora, é naturalmente um forte motivo de inquietação para as empresas exportadoras que os responsáveis políticos portugueses nada estejam a fazer no sentido de que essa alternativa venha a ser uma realidade.
E chega a suscitar perplexidade que não se esteja a ter atenção ao que França e Espanha se preparam para fazer nesse âmbito, com eventuais consequências altamente negativas para os legítimos interesses das empresas nacionais.
Com efeito, presentemente, a Espanha está a investir fortemente no sentido de adaptar a sua rede ferroviária à bitola europeia. Dessa forma, como é óbvio, os nossos vizinhos ficarão ligados ao resto da Europa por via ferroviária.
Portugal, por seu turno, decidiu não efetuar quaisquer investimentos nesse domínio nos próximos anos. Pelo que, não irá ajustar a sua rede ferroviária à bitola europeia.
Por si só, essa inércia portuguesa determina que Portugal ficará ainda mais isolado em termos ferroviários. O que implicará que esse tipo de transporte continuará a não ser alternativa para o escoamento dos nossos produtos em direção aos nossos mercados fundamentais.
Por si só, isto seria grave para a nossa economia. Mas infelizmente, o cenário em termos globais é ainda mais preocupante.
Na verdade, a Espanha já anunciou também que, a curto prazo, será proibida a circulação de camiões nas estradas do País Basco.
De igual modo, as autoridades francesas preparam-se para, também a curto prazo, impedir o tráfego de veículos pesados nas estradas do sul do país.
Se, conforme se prevê, tais impedimentos vierem a concretizar-se, chegaremos rapidamente a um ponto em que os camiões que tradicionalmente transportam as mercadorias portuguesas vão deixar de poder circular em Espanha e França.
Pelo que ficaremos confrontados com uma realidade muito preocupante em que o transporte ferroviário não existe e o transporte rodoviário passa a ser impedido. Ou seja: a oferta portuguesa ficará verdadeiramente estrangulada.
Não podemos aceitar que o governo e a oposição continuem entretidos em guerras paroquiais e não sejam capazes de pensar estrategicamente o futuro da economia nacional.
É urgente que o poder político desperte definitivamente para o que realmente interessa ao país. Será assim tão difícil entender isto?
Aníbal Campos
Presidente da Direção da AIMMAP"